
Memórias Póstumas de Brás Cubas é o maior clássico da literatura realista de língua portuguesa. Publicado em 1881, este livro marca o início oficial do realismo no Brasil e ainda serve de divisão na obra do seu autor, Machado de Assis, marcando o início da fase mais madura e qualificada deste escritor. Memórias Póstumas de Brás Cubas é um dos livros indicados para leitura nos vestibulares de 2017, 2018 e 2019 da Fuvest. Esta indicação também é referência para outros vestibulares, como Unesp, Unifesp, Puc e Mackenzie. A seguir, leia o resumo, a análise da obra e veja como ela já caiu nas provas.
Contexto histórico de Memórias Póstumas de Brás Cubas
Memórias Póstumas de Brás Cubas foi a obra que inaugurou o período realista da literatura brasileira. A estética realista-naturalista predominou na segunda metade do século XIX. Após a euforia romântica idealista do início, o século XIX retomava uma visão de mundo baseada na razão e na observação objetiva da natureza. O cientificismo dominava as filosofias deste período, marcado por avanços tecnológicos e urbanização acelerada.
Na literatura, a tendência romântica de exaltação nacionalista da primeira metade do século era substituída por uma produção artística que se propunha a mostrar a realidade sem fantasias, buscando explicações científicas para o comportamento social e psicológico das pessoas.
Surgem então dois tipos de narrativas: o romance social, também chamado de romance naturalista, que analisava predominantemente o comportamento dos indivíduos em seu convívio na sociedade, e o romance psicológico, também chamado de romance realista, que analisava prioritariamente as contradições e angústias internas dos indivíduos. Embora todos os romances da época apresentassem características dos dois tipos de análise, sempre é possível determinar qual delas (social ou psicológica) prevalece.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma narrativa onde predomina a análise psicológica das personagens, caracterizando-se, portanto, como romance realista.
Resumo do enredo
Memórias Póstumas é uma narrativa confusa e sem linearidade. O personagem principal, como sugere o título, resolve, depois de morto, contar a história da sua vida através de uma seleção dos episódios mais relevantes, desde o seu nascimento até a sua morte. Essa narrativa não segue, porém, nenhuma sequência cronológica. Ele inicia pelo seu delírio e morte, depois conta o seu nascimento e vai alternando, sem qualquer critério lógico, episódios de diversas fases da sua vida, sempre com uma alta dose de humor e visão pessimista.
Brás Cubas nasceu em uma família rica e proprietária, o que lhe possibilitou nunca precisar “comprar o pão com o suor do seu rosto”. Na infância, foi um menino endiabrado. Protegido pela conivência paternal, maltratava os escravos, aprontava com as visitas e desrespeitava os adultos.
Na adolescência, envolveu-se com uma prostituta que o explorou por vários meses, mas que ele, em sua narrativa, resume na famosa frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”
Foi mandado pelo pai à Europa para estudar e esquecer Marcela. Nunca levou os estudos a sério. De volta ao Brasil, conheceu Eugênia, moça bonita e romântica, filha de uma amiga da sua mãe. Brás Cubas lembra de que, quando criança, flagrara, durante uma festa na casa do pai, a mãe de Eugênia beijando um homem casado atrás de uma moita. Como Eugênia não tinha pai declarado, dá-lhe o apelido irônico de “flor-da-moita”. Mesmo sabendo que o pai jamais permitiria que ele se casasse com uma moça pobre e filha de mãe solteira, seduz Eugênia e chega a conquistar um beijo dela. Porém, quando descobre que ela é “coxa de nascença” ou seja, possui uma perna mais curta que a outra, foge, apavorado com a ideia de passar pelo ridículo de casar com uma mulher coxa.
O Pai de Brás Cubas tem o sonho de vê-lo exercendo o cargo de ministro. Para isso, arranja-lhe como noiva Virgília, filha de um figurão da sociedade que facilitará a carreira política do genro. Brás Cubas mostra-se, no entanto, tão apático e incompetente, que acaba perdendo “a noiva e o cargo” para Lobo Neves, um homem arrojado que ele próprio compara com uma águia.
Algum tempo depois, Brás Cubas reencontra Virgília, já casada com Lobo Neves. Desse encontro nasce uma paixão e os dois viram amantes. Virgília é uma mulher ambiciosa e não pretende abrir mão do prestígio social que seu marido lhe proporciona. Assim, durante anos, eles vivem um amor adúltero que só acaba quando Lobo Neves é nomeado governador de uma província e Virgília muda-se para longe do Rio de Janeiro.
Brás Cubas vai envelhecendo solitário e sem ter feito nada de relevante na vida. Com a ajuda da irmã, ainda faz uma última tentativa de casar-se e ter filhos. Fica noivo de Eulália, moça pobre e sobrinha do cunhado Cotrim. A moça, porém, adoece e morre antes do casamento.
Assim, Brás Cubas chega ao final da vida sem ter constituído uma família, sem filhos que dessem prosseguimento ao seu nome e sem ter produzido absolutamente nada que fizesse as pessoas lembrarem dele após a morte. No último capítulo, ironiza seus fracassos afirmando que a vida é mesmo uma miséria e não vale a pena perpetuá-la através dos filhos.
O foco narrativo de Memórias Póstumas
A narrativa é realizada em primeira pessoa, ou seja, há um narrador personagem que é também o protagonista da história. Como Brás Cubas está contando a sua própria história, ele é o que chamamos de “narrador não confiável”. Todos os fatos e demais personagens nos são apresentados a partir de sua ótica pessoal e subjetiva.
Se o leitor não ficar atento, pode terminar a leitura do livro com uma visão positiva do protagonista. Uma leitura cuidadosa, no entanto, mostra que Brás Cubas é um boa vida, arrogante e incompetente, membro de uma elite endinheirada e improdutiva. Essa situação privilegiada permite que Brás Cubas deboche da sociedade e seus membros com uma ironia sarcástica que não poupa ninguém.
A característica mais marcante deste livro é o pessimismo. Tudo é analisado a partir de uma visão negativa, seja em relação ao comportamento social ou aos dramas psicológicos das personagens.
No entanto, esta visão pessimista fica, muitas vezes, disfarçada ou escondida sob a presença marcante do humor, principalmente a ironia. A observação dessa dicotomia pessimismo e humor é a principal chave para uma leitura compreensiva desse clássico da literatura brasileira.
Referências:
OLIVEIRA, Altemir. "Memórias Póstumas de Brás Cubas – Resumo e análise"; Geekie. Disponível em <https://geekiegames.geekie.com.br/blog/memorias-postumas-de-bras-cubas-resumo-analise>. Acesso em 8 de março de ano.
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